[Cachaço de Porco Fumado com Ameixa]

x.Cachaço de Porco Fumado com Ameixa

Um cálice de amoras despeja rubis
Gargalhadas respingam cachaça

em doses de grito das bruxas cunhãs
de carvões carmim carquejando o maxilar

A essência das flores goteja no queixo
e umedece os lábios de piranga

Na sapucaí em ciranda,
Vi rostos virados em máscaras de besta
onde a fenda abre o baile das saias

Zangões melódicos libertam-se das colmeias

tatus rolam no pêndulo das serpentes
micos fazem dos galhos baquetas
onças assopram papagaios até virarem borboletas
guarás dançam nos dentes dos jacarés
jabutis entram no lago dos preguiças gigantes
e as garças aplaudem com os quadris

Nossos passos de morcego-neon espantam as sombras
Até o Sol subindo…

… com lúmen piado pelas nuvens frutíferas

que nos bota pra dormir

RQ 20

 

 

 

[Chapéu explora elas por Eros]

“Cresceste para a rebentação
da folhagem, para o cheiro de sangue
se o colírio do amor desnuda
as paisagens.”

António Cabrita, Fotogenia de Sísifo

 

Corpo ao lado com espigas empalando’s pés à cabeça
Faz-se um voodoo encarando o espelho

Nu, corpo macio
que aguenta agulhadas
Ui! Essa inesperada

picou a orelha
e pisca num beijo de olhos apertados

 

Sem chapéu revela a careca com brinco de pérola
O abraço de terno aberto e descamisado

Os ramos de inverno, descobertos

lustram o vento se lixando pras folhas

Enquanto mamilos bicudos insistem nos bolsos frontais

O tecido balança com a brisa e sorri provocante
O sapato puído não é de couro, mas a costura engana
Até que a unha ofensiva fura…
A pinta de piercing removido no canto da boca

esguichando como a estátua dum menino nu

 

A paixão apunhala os hormônios púberes de Eros

que galopa de estrela em estrela
com o pequenino conjunto de arco-e-flechas em mãos

 

O que acontece quando vemos debaixo da pele?
Qual cor tiraniza as refrações?

A víbora encarnada come os dois.

RQ 19

[Fantasmagoria do son(h)o pro fundo]

“Largou o sonho nos barcos
que dos seus dedos partiam”
Diz Natália Correia

 

Será quem a fecundar os sonhos?
É Virgílio que dá um níquel a Caronte para nos levar abaixo

 

rio-me com pedras na garganta

por passagem que causa corredeiras

 

O bote é um corpo à margem da carne

no sangue uterino preso por uma orelha

Os lábios tocam a boca cadavérica e bebem o vinho novo

Me atiro da embarcação presa dentro da garrafa,

como se fosse mensagem oculta nas velas frias

 

Não quero mais descer, vou subir.

 

“barco homem avança pelos telhados e se ri à hipótese
de haver chão em baixo
e risca lentamente o ar com o braço
numa hipótese de música de concerto”
Diz Mário Cesariny

 

É Jim Morisson pelado,

pulando como gato
louco de ácido pela primeira vez

 

Quando cansa, mata a sede no oceano

como os corpos fundidos ao mar no Naufrage de Vieira da Silva

Bebe da água com notas amadeiradas, do caos onde naus partiram
É salgada como o choro, e leva o sabor dos olhos dos navios

Está a saudar de mão encharcada com lágrimas ‘em posição de concha
que descortinam-se da vista como se fosse surpreender alguém familiar

 

“Aquele que partiu
Precedendo os próprios passos como um jovem morto
Deixou-nos a esperança.”
Diz Sophia de Mello Breyner Andresen

 

É a canoa-esqueleto que recolhe pálpebras dos fantasmas

e deixa uma marca de batom cinza na bochecha fria

 

Matéria sem corpo, que voou do contorno desenhado no homicídio do asfalto
Com pulsões invisíveis dramatizando o silêncio

na “ternura dos espelhos absolutos”, de René Crevel

 

Eu lhe peço que dê a esse corpo navegante
A mais eterna da expressão feliz:

 

Um sorriso absoluto para saudar o novo lar
O mundo infinito de vozes ressoando…

… na luz apagada.

 

RQ-19. Lisboa.

*

Maria Helena Vieira da Silva
História Trágico-Marítima ou Naufrage
Óleo sobre tela, 1944
Coleção Moderna Fundação Calouste Gulbenkian

*

Natália Correia: Retrato Talvez Saudoso da Menina Insular/1955.
Mário Cesariny: A Cidade Queimada/1965.
Sophia de Mello Breyner Andresen: Mar Novo/1958.

[Robotiníquel]

I

Obelisco na bunda do sabiá

que sabe o que o cuco tem

Do sofá, ouço o curso do botão

até a badala do sino dobrar

 

Não abro o que não vou comer
até o prazo de vaidade vencer

Mas por baixo dos pés acessos,
Passa a gravata (ou cartão de visita)

Não devo entregar minhas bestas quase extintas
e dilaceradas por punhais de papel

Às asas sem pena dos pombos-postais

 

A marsupial toma um golpe no bolso até apagar a luz.

 

II

Um suspiro de nuvem flutua acima

Na rua, o brilho dum níquel em chama de resgate.
Estrela-da-manhã marcada a ferrete na córnea

Flecha disparada no voo espectral
dum pavão com penas douradas,
mas com pouca carne nas coxas

*

Pedras na bota são lúcidas
como memórias cristalizadas em lembrança

Os granizos calham de apressar os tendões

Pés espatifam lascas úmidas nos buracos que saltos evitam

Nos maiores, uso a vara, não como Thiago Braz,
mas brandindo em vampiros com bafo mormaço
que tentam saciar-se através do couro envolvendo o pescoço frio

Tenho maços de bambu.
“Aceita um cigarro?”
Acendo dois: 1 para mim, outro pro futuro

e a moeda deixo para amanhã

 

RQ 01-19

Foto: moeda do Reino of Lídia (Anatolia), 550–546 a.C.
Reprodução: Museum of Fine Arts, Boston

[Beata]

Toda manhã a ir ao trabalho,

minhas roupas pretas enfrentam o queimador

Aqueço a chaleira no caminho,

para chegar com panos frios

 

Sou ombro aos que choram no balcão.

 

Pistões nas ruas disparam sonidos comprimidos
Breques aceleram o ritmo do asfalto-frigideira
O óleo de engrenagens gira nos meus glóbulos
E os óculos embaçam no bafo até chegar ao ponto.

*

As beatas que mastiguei com os pés
são a brasa amparada da minha prece

Tenho sapatos-bomba
para encher o colchão
e acomodar o pouso arquejante

A cabeça biruta balança com as nuvens
e foge pelo sopro do lobo no olho mágico.

*

Um clarão com fadas voadoras tira a sombra dum sorriso no horizonte.

 

Sou o grito da pantera amordaçada.

 

O acaso nos coloca ao mesmo banco
todo dia que atraso 10 minutos.

 

Somos forças de trabalho indo à mesma direção,

mas em sentidos contrários

Como duas linhas que repartem duma

em ângulos

desencontrados

 

Meu fumo é venenoso como o rabo dos carros
Ela, de vestes brancas, inspira pureza

Enquanto tardo,
Ela esbanja antecedência

Eu que vou comer, ela já almoçou

Sou ano velho que se apaga em escuridão
O gole final de uisquecido no fundo-armário

Ela é o novo, querer de sonhos e ambição
Champanhe gelado que decola,
como um foguete da meia noite

Quando abro a torneia imperial, sirvo os imprudentes
Ela lava as mãos e imuniza os pacientes

Vejo meus clientes indo do expediente aos leitos que ela encapa dia-a-dia…

Quando brindo na madeira,
é corpo estilhaçado

É lamento quando ela
vê a caixa coberta pelo mato

A ressaca que me cansa
é seu sono necessário

Ela, tão próxima da morte
e eu quase atravessado

*

Domingo, dia do Sol.

Aquele riso, outrora reluzente, esconde-se em lua nova

 

Me aproximo ofuscado,

querendo água, mas peço fogo

Ela está de luto e com olhos encarnados

É primeira vez que não a vejo pomba

 

Será que esse amor louco também dispara pra mim?

Como um corvo, para uns a Morte no tarô,
para outros a aurora.

Ela estende o braço que transborda pelos poros
e gira o dedo flamejante

A concha que faço pra manter a chama contra o vento
ecoa uma onda rebentando nos rochedos dos meus calos
As bochechas de coral esticam agradecimento

A palma que curava, passa à minha o cheiro de tabaco
Acende duas brasas que endurecem nosso encontro

 

“Este mundo não presta, venha outro”.

Leio Saramago na fumaça e em voz de gralha-negra

a lâmpada que acenderá.

 

RQ 01-19.
Lisboa, Portugal.

[Meteorito em feitiço]

A cortina alva acaricia o vento morno

Com as asas pousa em passos serenos

Percorre da aterrissagem até o cerco que protege minha timidez

 

As mãos que trazem sonhos e o universo

dividem os fios ruivos e abrem os braços

Nós múltiplos começamos a desembaçar com o choque do contato

No peito, um punhal cravado revela-se

e finca no meu coração com cordas afiadas

 

Uma despedida de saudades mútuas entre duas pessoas que não se conhecem

A paixão é bela como o fogo que acelera a libertação das correntes sanguíneas

e faz com que o gelo dos cometas brilhe

 

Meu pescoço, marionete dos cordéis vermelhos por toda aquela noite

sente o mesmo feitiço que o asteroide rasgando rente ao globo

 

O primeiro olhar que separa os quatro planetas alinhados

duplica a lâmina de rasgo mais profundo

à gravidade que chama o beijo inescapável

 

Rodrigo Qohen 09-18

[Omar campeão]

Os vermes espalhados na pele

transpiram o espanto dos pregos que zumzeiam

 

O cigarro sembrol perfuma o peito

Os vinte dedos são livres para respirar
enquanto desobstruem a garganta
e batem palmas mortais

 

Meu sangue alcoólico ferve em lua crescente

Com squiques silvestres que abraçam
como o cerco verde, nuvem de sonhos
balançando entre os troncos de silêncio

 

Dentro de minha orelha, uma concha,

As ondas vêm em vão

pelos frios grãos que massageio com os pés

 

Motores giram borracha no portal da cidade

Ondulações transversais freiam a ultrapassagem

na alta velocidade dessa espuma que arrepia as costelas

 

Os vagões que trazem gente praticamente nunca param,

pois estão fugindo,

como crianças evitando molhar as canelas

 

O som é curto, pois dissipa-se como o aluno
que segue o curso, mas termina em dilúvio

Mantém-se de pé no ringue, soando gonzo

Omar, que mesmo aos trancos,

será  nosso campeão.

 

Rodrigo Qohen. Itacaré, BA. 09-18

 

[Bafo que sobe balão]

Bumbo abafado pela alma das fadas

sob holofote, cerveja de fótons

Vibra os corações dos copos em valsa

como móbiles do sistema solar

 

Um pedaço dessa malha flamulante se destaca da trama

Aflito como o golpe na barriga

Esse que tira o ar, como se afogado no próprio tormento

 

Uma bufada de vento soprada pra dentro

é a cura da claustrum

Essa porta emperrada imune a machados,

mas que destranca com a calma dum clip.

 

Quando se prepara para abrir, o grilo salta em suicídio…

 

O pálido pilotando a moto

no fundo, fora de foco

Seu molho para abrir o potrão

cai do bolso de Adão,

escudo da costela ralada

 

A criança navega na altura dos joelhos

e se esconde nos arbustos de araras

A mãe, que cambia o ouro por adornos de pena

afoga-se em lágrimas de desespero

ao perceber que a cria se perdeu

 

A dor de cabeça cisca o solo à procura dos vestígios

que descolam da sola dos chinelos

 

Fareja como uma lupa

à procura da agulha

transformada em palito de fósforo.

Por entre os troncos: a tocha!

Única faísca necessária para extasiar o celeiro.

 

A pira ascende das cinzas na zona dos sem-teto

Uma fênix sacudida entre os dedos

Que cai rodopiante

pela haste, até a raiz de manguezal

 

Enquanto isso, só se põe

para que luz anil da maré cheia possa reinar

e rechear a câmara quente com seu sopro sutil

 

Os celestes que rodopiavam ao som do astro

São óleos brilhantes em céu descoberto

que piscam palpites pra mim

Gotículas saltam da panela com susto do choque térmico

Faíscas numa castanha de noz ligariam a lâmpada flutuante

Esquilo é o junkie precavido, que nunca anda de bolso vazio

 

Almejo subir tão alto quanto um balão de São João

e então avisar a todos onde a fogueira flama

 

Há um arquipélago no centro do palco

Este que vejo adentro, abaixo dos quadros de Volpi

Em couro preto e cromo fosco:

Um guitarrista sem um dedo esquerdo do meio

que vibra com essas centelhas de um som que sonhou

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Rodrigo Qohen 06-18

Foto: Vitor B. Cohen

[Conta minada do pássaro no chão]

Sete formigas famintas, na’ve abatida. Contágio do foguete para cima que explode num buquê de tripas. O banquete, quebra-cabeça ao contrário, minguando peça a peça do túmulo à montanha.

“Vocês são livres?”, nascem as questões de pequenos pontos pretos que brotam como tulipas cabisbaixas em dia abafado. Sou o casco do relógio, o caco deprimido do vidro quebrado. Solitário, de bolso vazio e preso no banco. Quanto ao cheiro de maresia, ele inebria o ar quente dos escapamentos nostálgicos da minha cidade natal. Aspiro a fumaça como Noel e travo combate contra todos os botões da camisa até o último guerreiro. Em países quentes, ele deixa o casaco aberto e toma o vento no peito branco. O cabelo úmido em guarda: é a agulha presa na palha que pia socorro para quem quer que vá procurá-la. Antes do fim, o fantasma troca o gorro por Panamá.

Sinto na íris a ardência de dois vaga-lumes que partem como sardinhas importadas. O gato-de-rua procura pelos restos da estação e sente cheiro do peixe podre dentro da minha barriga. Dias formidáveis coçam na nuca do lobo, enquanto inibem o polvo positivo na quilha fraca do barco deteriorado e encalhado na areia. Não me atrevo a uivar por bem para me soltar dos tentáculos magnéticos. Sou o ímã do mal, irmão do castigo nas costas punitivas, o velho de espírito dormindo no bote que sabe do final infeliz. “Proibido sorrir”, leio na placa amarelo-triste sob o olho vigilante.

Quatro dias na cidade submissa aos turistas e desmaquilada em maré baixa. As tintas que retocam as paredes dão cor às grades da gaiola, enquanto o sal das ondas corrói o tempo como areia de ampulheta. Quem vive em férias discorda. Mesmo com os óculos embaçados pela febre, posso ver além da minha pia com louça acumulada. O amargo na garganta é obrigado a esperar a passagem do ar. Parto de nove corujas filhotes ou acorda com um galo de manhã. Doo o ótimo trago do meu companheiro destilado. Último que queima como o olho do pastel em fim de feira marcado ao ferro da ferida pelo capataz oriental. A pilhagem de pratos delicados desmorona na orquestra de Hermeto Pascoal. Sou escolhido pelo nono arcano. O Mundo do povo dançando, mas vigiado por anjos. O ingênuo com hímen falso tampando a boca para não denunciar a própria culpa. Recompensa para o corpo que decompõe no chão, o único símbolo concreto no horizonte. Que inveja desse cadáver.

Trem apita adeus para que parta. Separa os apertos regados de lágrimas e promessas de tornado. Picados perdidos num misto-morno ao lado da coxa velha na estufa mal-regulada. Me torço no pano que limpa a porta do banheiro e passa por baixo dos pés do vigia em descanso. O gralho de um ganso contínuo implorando aos céus pela bola meteórica. Cólera au dente para comer o dinossauro daquele cemitério. A boca da corneta no beijo seco que lembra o fôlego de ontem. O desejo do morcego desnorteado de tanto fumar bambu.

Dos minutos que existem para as formigas com chapéus deixarem o rastro e acomodarem-se. Preciso de uma parte desse tempo pra me despedir. Só falta um idiota e o tal do meteoro. Pergunto, ateus, se devia ter sido crente. Ou evitado vomitar na frente do templo ontem à noite. O cavaleiro que observou os últimos grãos caírem à espera do disparo para então levantar o quadrado, engolir o último vestígio de uísque acumulado debaixo da língua e questionar à esfinge se saía pela entrada. Antes de cruzar o portal, boto o chapéu e me fundo com esse espectro que paira minhas angústias. Depois, limpo os pés com lama na sola, raspando o recheio da bolacha nos dentes. Sinto os primeiros tremores doces na bochecha, enquanto subo às escalas de orelhas esticadas. Os vitrais ondulam, como se a presença divina estivesse garantindo um lugar no paraíso ao último dos panamás.

Um caminho até o assento na fileira do cu. Amante de banheiro. O veículo vibrando junto com os músculos do peito vermelho, pulsando todo o sangue em velocidade de olímpica. Isso recostado numa das cadeiras, quase cama ao som do clique. Tento cerrar a vista com a faca cega, mas pulo no baque da vaca cadente que cruza a lua láctea e bate na janela. Estrelas descem dos céus e vêm fazer companhia.

Zero à esquerda no horizonte! Que toma no boné um uppercut de mormaço. Ofega. Um peteleco arremessa a bagana pela janela do carro e o mendigo que atravessou a rua percebe. No momento que chuteira do atacante trava para voltar de contra-ataque, a prensa traseira roda por cima do pássaro agonizando o bico quebrado. Observo, em canto, o dele incorporado ao chão, enquanto uma nuvem de pragas deixa o comboio e paira tempestuosa sobre a cabeça do azarado que atrasou.

Rodrigo Qohen, 05/18

[Volto ao mundo na última bicada]

Desgaste setorial na dentição, que afia na fala.

Me fazem companhia as caveiras platinadas

que decoram as prateleiras de salões de beleza

padronizando tantos couros numa loira só

Gostaria que inesperadamente

Eros aparecesse para brincar de dardos

 

Dou um soco na parede para aliviar a pressão,

mas as memórias arrepreendidas fizeram questão de ficar

 

Obsta rochosa no mar, perto da costa

O veleiro desenhado nas linhas da mão

é o tapa que prefere não navegar,

mesmo abarrotado de bagaços fermentados

Açúcares transfigurados em ácidos

pelo trabalho em conjunto com fungos

Se forem leveduras,

garanto que bebo até no urinol Duchamp.

 

Bela, bela,

Flor na primavera.

Brota versos nas cores

como o malte nas sementes

que pulverizo com carunchos,

as proteínas de cartucho vazio.

 

Folhas fogem das lombadas para não desacelerarem

Pétalas, apito de pássaros com bico comprido

bebem o néctar

e transformam em drink.

 

Voando minutos vívidos que não deixam vestidos

Apenas o rastro de ar abaixo das axilas

que se desloca pelas sombras

ao teto ornar no furacão

 

Giro que sou no meu próprio eixo

ao deixar os degraus do balcão.

Bailarina se equilibra na pontinha do vinil,

que toca a última canção da noite

Solene para evitar o 180 nivelado

Assim, ziguezagueando

como o invasor fugindo do zangão,

volto ao caminho escuro

Como Lowry,

para “fundir-me só na obscuridade, na noite”

por onde estive antes de chegar.

 

Rodrigo Qohen, 04/18